Contrate um profissional de Jogos

Escrito por Elinaldo Azevedo
em 01/05/2022

Na área de Tecnologia da Informação, é muito comum o recrutador perguntar à pessoa entrevistada sobre sua formação e o que ela entende sobre a tecnologia que a empresa utiliza. Nas empresas tradicionais, também é muito comum o recrutador 'torcer o nariz' para o candidato(a) formado em Tecnologia em Jogos Digitais.

Muito antes de ingressar na área de jogos, por volta do ano de 2003, fui entrevistado por um recrutador da área de TV/Rádio. Então ao ver meu currículo, ele me olha, olha para os demais que estavam na sala e pergunta, seguido de uma risada discreta e com ar de deboche: "Quer dizer que você gosta de jogos? Vi que você fez um curso de desenvolvimento de jogos". Prontamente, entendi que, naquele momento, seria uma pergunta com um misto de curiosidade e desmerecimento. Então expliquei de forma diplomática que nem ele e nem a empresa estavam preparados para discutir aquele assunto tão recente e inovador. Eu sabia que não iria conseguir o emprego ao falar aquilo, mas minhas certezas e convicções falaram mais alto para mostrar que ele estava errado.

No mesmo ano (2003), eu lia notícias como: "Games faturam mais que música", "Game supera cinema como entretenimento" e "Indústria de jogos inova com tecnologia 3D". Foi então que me determinei em levantar a bandeira do desenvolvimento de jogos na nossa cidade. O grupo Beljogos foi uma ótima plataforma para iniciarmos esta jornada. Fizemos eventos tecnológicos, palestras em instituições de ensino, criamos parcerias, instigamos a sociedade e colocamos instituições para pensar sobre o assunto.

Durante os anos que se seguiram, mais notícias sobre o crescimento da área de games apareceram conforme o sucesso dos jogos AAA também se popularizava. Com isso, começaram a entrar mais na mídia os cursos de Tecnologia em Jogos Digitais e Design de Games. A primeira instituição a se arriscar neste novo mundo do desenvolvimento foi a Faculdade Anhembi Morumbi, com o curso de Design de Games. Pelo menos era o primeiro curso de ensino superior no qual eu havia lido sobre.

A adaptação dos cursos já iniciava, mas o mercado ainda não estava preparado para estes profissionais. Haviam muitas incertezas sobre o mercado consumidor e que tipo de serviços estes futuros 'alquimistas da interação' (gosto de fazer esta analogia) poderiam fazer. Logo, projetos de games começaram a aparecer dentro dos eventos acadêmicos como SBGames e eventos mais "tradicionais" como Educação, Engenharia e Saúde. Em sua maioria, eram projetos que descreviam conceitos aplicados à jogos digitais, que futuramente seriam chamados de Gamificação.

Desde 2003, o Brasil tem alicerçado as bases para o mercado de profissionais de Games. Estamos em 2022 e ainda encontramos resistência quanto à contratação de estudantes recém-formados, ou até mesmo estagiários de Jogos Digitais. Quando as empresas pensam em contratar um profissional de TI ou até mesmo na área de Marketing e Artes, raramente pensam em pessoas que fizeram um curso voltado para Games. Agora vou explicar como esse profissional pode ajudar no mercado.

Então vamos começar pela sua essência, o que o motiva a procurar um curso de games. A pessoa é movida pelo desafio de superar suas dificuldades e limitações. Cada jogo os desafios são diferentes. Tem personagens diferentes, labirintos e enigmas diferentes, de jogos para jogo os controles podem mudar. A cada jogo, a pessoa precisa se adaptar. Fazendo um comparativo com os desafios das empresas. Cada projeto novo, é uma nova situação a ser seguida e desafios a serem superados. Aprender sobre como os jogos funcionam, é uma maneira de saber como os projetos funcionam.

Depois da escolha do curso, a pessoa pode seguir por uma área mais tecnológica ou menos tecnológica. Mas de qualquer forma ela vai ter que entender de tecnologia. Afinal todo jogo utiliza algum recurso tecnológico, até mesmo um jogo de tabuleiro ou cartas utilizam recursos físicos mais ou menos sofisticados.

Durante o curso, a pessoa é instigada a estudar sobre como resolver um problema. Criar mecânicas, jogabilidade e regras endógenas, é uma forma de estudar sobre o problema para encontrar uma solução mais eficiente. A pessoa deve estudar sobre o comportamento dos jogadores, assim como estudar sobre o consumidor do produto de uma empresa. Ela responde perguntas como: "O que motiva o jogador ficar jogando?" e "quais os fatores que contribuem para a melhor experiência deste jogador?". Agora coloque estas perguntas no contexto de uma empresa. Você conseguiu visualizar?

Sem deixar de lado os fatores ferramentais, independente da época em que a tecnologia foi criada, estas ferramentas são ativamente utilizadas para construir o 'mundo perfeito' para o jogador. A união das ferramentas de arte e de lógica (podemos incluir as linguagens de programação), criam os mundos concebidos pela mentes dos Game Designers.

Até mesmo um profissional de Marketing pode vir da área de games. Vamos pensar agora nos grandes campeonatos de jogos como 'League of Legends' e 'Counter-Strike', cada evento demanda uma equipe de comunicação e publicidade bem antenada com a área de games. Mas se começarmos a ver as marcas patrocinadoras dos eventos, perceberemos que a brincadeira não é para crianças. Ou melhor, esta brincadeira só brinca quem quer lucrar de verdade.

Acostume-se! Desde a popularização do Atari 2600, o mercado foi mudando e os profissionais também. Eles foram se adaptando às novas tecnologias que iam surgindo. Ganharam habilidades mais ágeis. Tornaram-se mais antenados com o que acontece no mundo. Mas os profissionais de desenvolvimento de games vão além. Eles pensam em tendências, o que pode vir a ser o próximo Windows ou o próximo Elon Musk.

Você recrutador, está preparado para contratar este profissional? Ou melhor, sua empresa está preparada para contratar esta pessoa que pode fazer uma grande diferença?

O objetivo desta área é ter leituras para reflexão. Aqui você não precisa dar LIKE, DISLIKE ou COMMENT. Apenas escolha sua leitura e reflita sobre os temas propostos. Espero que todos que lerem, apreciem os textos. COMPARTILHAR não é obrigatório, mas ajuda na divulgação do texto. Se você é daquelas pessoas que adora dar um feedback sobre o que fez ou leu, pode me procurar nas minhas redes sociais, estarei disposto a conversar. Obrigado!