Somos simuladores

Escrito por Elinaldo Azevedo
em 25/05/2022

No final dos anos 90, eu gostava de assistir à uma série de TV chamada "The Pretender" que contava a história de um homem que cresceu em um centro de pesquisa, ou um instituto governamental, com o intuito de ajudá-los a desvendar crimes e situações investigados pelo centro (às vezes assassinatos, às vezes sequestros, e às vezes roubo). Quando criança, Jarod tinha um Q.I. muito acima do normal, então o centro o treinou para ser um Simulador, ou seja, alguém que pudesse ser qualquer pessoa, um médico, advogado, engenheiro, ator, surfista, etc. Sua capacidade de adaptação, sensibilidade e lógica o ajudavam a entender qualquer trabalho, do simples ao complexo.

Naquela época, eu devia ter entre 18 e 20 anos. Mas aquele programa me marcou pelo fato da possível capacidade humana de aprender e se adaptar. "Uma pessoa pode ter qualquer profissão que queira?". Isso nos leva ao principal ponto de que esta pessoa típica, primeiramente precisa saber ler, afinal ser um escritor ou advogado tem ter o mínimo de interpretação do texto. Esta pessoa precisa saber escrever, ou o mínimo para se comunicar por símbolos em uma sociedade repleta de semiótica. Esta pessoa precisa saber calcular, ou pelo menos entender a lógica por trás dos números e suas funções, pois se quiser ser um cientista da computação, deve observar seus parâmetros lógicos e seus resultados.

Certo, então basta ter estas três habilidades para ser um Pretender? Não. Elas são básicas, mas existe uma outra coisa que chamamos de MOTIVAÇÃO. E isso você não aprende, você nasce com ela. Existem pessoas que tem muita motivação (geralmente chamamos elas de milionários, pessoas de sucesso, campeões, vencedores etc), e existem aquelas que tem menos (geralmente chamamos de pessoas comuns ou invisíveis). Mas existem outras pessoas que não sabem que o tem dentro de si. Todo mundo é um simulador em potencial. O que nos diz o que queremos ser é a motivação, a energia interior que nos faz criar, construir, desenvolver, ajudar e curar.

Vamos à um exemplo: Desde minha infância, sempre busquei criar e desenvolver coisas para ajudar às pessoas ou resolver problemas de formas mais simples. Esta inspiração, também vem de outro seriado que eu era muito fã nas minhas tardes de Domingo. A série "Profissão Perigo" (a.k.a. MacGyver, 1985) podia ser bem 'mentirosa', mas tinha um fundo de verdade na lógica científica que havia nela. Resolver o problema de um vazamento radioativo com goma de mascar, "Seria realmente possível?"(pensamento da criança). Voltando ao exemplo, procurei estudar de tudo um pouco. Lia sobre filosofia, artes, lógica, geopolítica, história, programação, e qualquer coisa que viesse no momento da minha motivação.

Sempre fui uma pessoa mais prática do que teórica na hora de resolver um problema. Eu analisava a situação e procurava as respostas mais eficientes possíveis dentro do meu conhecimento limitado. Os problemas mais complexos que precisavam de estudo, perguntava para meus pais, e se não soubessem, tentava buscar nas bibliotecas e bancas de revistas (na época não tinha internet).

Durante minha jornada profissional, trabalhei com webdesign, multimídia, marketing, redes de computadores, suporte ao usuário, programação, garantia de qualidade de software, educação, serviços bancários, logística, gerência de projetos, banco de dados, sistemas ERP, desenvolvimento de games, entre outros.

Na minha vida não profissional, tenho conhecimentos em culinária básica, sobrevivência, filantropia, filosofia, ufologia, estudos da religião, história antiga, artes visuais, psicologia básica, engenharia básica, eletrônica básica, cuidados na primeira infância, economia doméstica, ciclismo, esportes de aventura, entre outros.

Ao longo destes anos, venho analisando chamadas de recrutadores nas redes socias e me questiono: "Que tipo de profissional estas empresas realmente querem?", "Será que minhas soft skills poderiam ser suficientes para esta vaga?". Desde que comecei a ler sobre estas vagas, tentei ler muito sobre o que pediam. Não para me candidatar, mas para entender para onde o mercado está andando. Minha conclusão é que nossa sociedade quer "Pretenders"(simuladores).

E se pararmos para pensar melhor, os Pretenders mais especializados, são aqueles que sabem se virar nos cenários mais específicos, porém quando o assunto foge do seu nicho de conhecimento, eles não buscam soluções eficientes, procuram refazer o trabalho para ver onde erraram. Errar é humano!

Na sociedade regida por sistemas computacionais, no qual tudo deve ser rápido, eficiente e intolerável à falhas, os empregos para os 'realmente humanos' está ficando escasso. Não que os Pretenders não sejam humanos, mas percebemos que a busca por precisão nos processo e resultados traçados por metas estão nos tornando cada vez mais parecidos com a máquina.

Qualquer pessoa pode ser um Simulador, basta saber o que quer fazer. Busque sua motivação e seja um Pretender.

O objetivo desta área é ter leituras para reflexão. Aqui você não precisa dar LIKE, DISLIKE ou COMMENT. Apenas escolha sua leitura e reflita sobre os temas propostos. Espero que todos que lerem, apreciem os textos. COMPARTILHAR não é obrigatório, mas ajuda na divulgação do texto. Se você é daquelas pessoas que adora dar um feedback sobre o que fez ou leu, pode me procurar nas minhas redes sociais, estarei disposto a conversar. Obrigado!